- Hi, Ken!
São os motes que grudaram na cabeça da moçada no alvoroço do lançamento do filme da Barbie, que já é a película número um de 2023. O filme superou a marca de US$ 500 milhões no mercado interno. Já é o 20º da história a arrecadar este montante.
O longa de uma hora e quarenta minutos tem a estética colorida e plástica da boneca que mudou a maneira como meninas do mundo brincavam de boneca. De meros bebês que mamavam a uma mulher formada e de bela silhueta, meninas americanas tinham agora em 1959 a possibilidade de ser tudo o que quisessem ser. Uma mudança cultural brutal.
Não mais a fantasia de ser mãe e dona-de-casa. Agora, pela criação de Ruth Handler, meninas poderiam exercer qualquer profissão, ser atletas ou meras modelos, com direito ao guarda-roupa mais invejável que qualquer menina jamais pudesse sonhar.
O filme é o primeiro da Mattel Films, mesma empresa que hoje produz a boneca e que usou o lançamento do longa para um trabalho de metalinguagem de impressionar até mesmo Joseph Goebbels.
Expondo a Barbielândia em seus bastidores, a empresa apresenta a boneca protagonista em crise existencial. Barbielândia seria o Céu, a realização do ideal perfeito alcançado pelo feminismo, trazendo a utopia de um mundo onde as mulheres teriam o domínio, e os homens, ou melhor, os Kens, seriam meros coadjuvantes.
Barbie ali é tudo e se basta. Todas são o que puderam ser. De presidente representante de minorias raciais a obesas resolvidas ou fazendo-se engolir. Mecânicas, surfistas e, claro, símbolo sexual e imposição estética da beleza feminina a ser padrão social.
Nem Karl Marx ousou tanto. A quarta onda do feminismo ficou para trás em sua luta de classes e foi engolida pelo metacapitalismo, que vendeu o feminismo em nova embalagem: pasmem, rosa!
Aí começa o plot twist da história. A crise da Barbie estereotipada é com a finitude da vida. Ao se deparar com o pensamento de morte, tem sua humanização alcançada como um Pinóquio às avessas. Barbie agora tem pé chato, depressão e celulite. Nada mais doméstico.
Em busca de respostas, de motivo para tal desgosto, faz sua viagem ao mundo real. O nosso mundo que está nas cabeças dos ideólogos que roteirizaram o filme para fazer uma arte panfletária que tem como público-alvo os mais vulneráveis, as crianças.
Após se aconselhar com a Barbie estranha, aquela que sofreu de tanto brincar, rabiscada e feia, de estética desajustada. Esta que negou o equilíbrio da beleza do mundo de brincadeira e se tornou conselheira e guru, traz a mensagem da verdade à tola de plástico. Barbie estranha é a profeta, a intelectual orgânica, a libertadora de mentes. Barbie estranha é a feminista clássica, misto de Kate Millet, Simone de Beauvoir e Frida Kalo.
Barbie no filme é isca, anzol e rede. O mundo apresentado pelo enredo é uma caricatura do tal patriarcado que feministas e a esquerda woke pinta para os desavisados.
No lado de fora da Barbielândia, tudo é do homem. Mulheres são oprimidas, objetificadas, e curiosamente se voltaram contra a Barbie por ter sido um alvo inalcançável de perfeição. A realidade traz a Barbie para a dureza da vida que se vê no dilema entre ser tudo o que se pode ser ou lutar para que a vida se torne pelo menos viável.
Você deve estar se perguntando: onde está o vilão do filme? Ken é o vilão. Essa é uma resposta. O estereótipo do homem também é de plástico. Na Barbielândia, um coadjuvante que sobrevive pela existência das mulheres. É bobo, débil, fútil e fraco. No mundo real ele é o máximo. É ele que fez a história, domina o mundo e também causa os piores males. É vilão lá e aqui. Para o homem, não tem escapatória.
Causa revolta aos homens ver em tela mundial sua imagem ser pintada de tão grosso modo, porém, o manifesto traz a muitas meninas exploradas e feridas por pais e pelos homens significado e resposta às suas opressões.
E é aí que mora o problema. O mundo avançou pela força dos homens e pelo braço das mulheres. Há homens terríveis e mulheres criminosas, e vice-versa. Todos caíram, como diria Paulo, o apóstolo da religião dita como patriarcal, mas que abriu às mulheres a oportunidade de saírem de um contexto de silêncio e opressão para um mundo de liberdade dada pelo Cristo que incluiu a mulher como ser autônomo na fé que é a resposta ao mundo desigual. Quem nega que o Evangelho é a resposta libertadora às mulheres, que estude.
No desenrolar do filme, Ken domina a Barbielândia enquanto Barbie descobre que seus problemas foram causados pela sua correspondente do mundo real que agora emprega a missão de salvar as bonecas da opressão de plástico do boneco tolo.
Mãe, filha e Barbie são as heroínas que retomam o paraíso perdido das mãos do homem que virou Satanás. No caso, dá só para citar mãe e filha mesmo. O pai dessa família aparece duas vezes, no início e no final. Em todas as duas é um completo idiota. Passivo, alienado e derrotado. A materialização carnal do Ken de plástico. Chega a irritar.
Finda a história da única maneira que poderia: empoderando mulheres na inflamação do ódio, de culpabilização dos homens e sua emasculação. Na consolidação da mensagem e na cristalização das mentes dos espectadores, fortalece os estereótipos progressistas e faz do homem o grande problema.
Esse é o discurso do encontro de Barbie com sua criadora, Ruth Handler. Esse é o imaginário que o filme alcança. Uma gênese parafraseada em que o criador transfere a culpa, muda a realidade e propaga uma mensagem que divide a humanidade. Diabólico!
No frenesi do lançamento do filme, vinha o meu dilema. Eu, pai de duas meninas, tinha de decidir entre proibir, encastelar e criar o desejo no coração pela proibição de assistir a um mero filme, ou deixar ver o filme modinha que já imaginava se tratar de um panfleto tosco das pautas identitárias.
Deixei a mais velha. Tranquei a mais nova. A pequena iria ver comigo. Como sempre fazemos nas sessões críticas de cinema aqui em casa: eu mastigo primeiro, ela engole depois.
Após o filme no cinema, a mais velha se espantava com tamanha alienação de adultos fantasiados de rosa; a minha indagação: e o filme?
- É ruim, pai. Tudo é culpa do homem, e a Barbie se acha demais.
Missão cumprida.
Na vez da mais nova, no fim do filme, ela solta:
- O pai dessa menina não faz nada, não é?
- Viu aonde esse povo quer chegar, minha filha?
- Filme ruim.
Obrigado, Deus. Missão cumprida.
- Pr. Bruno Barroso Pastor Auxiliar